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Deixe seu coração quebrar

Estou tentando encontrar alguma forma de falar do que venho passado nos últimos anos… e ficado cada vez mais e mais intenso…

Uma limpeza de camadas que eu poderia chamar puramente de se despir.

As vezes esse despir é radical e monstruoso. As vezes é suave e calmo. Mas é sempre, sempre doloroso.

Aqui que eu não fale de uma dor genérica, atoa ou “de graça”. É a dor no coração que todo mundo sente e que se passa por “não sinto nada”. Quando você sente cutucar e vê que ainda arde… fica feliz porque é sinal que ainda SENTE de verdade. O nada nunca foi realmente nada. Entende? Eu estava pensando hoje cedo… como falar pras pessoas tudo que sinto e venho experienciado se não tem palavras? Não tem como ensinar… são experiências. As pessoas só vão saber quando também sentirem e isso eu não necessariamente posso dar a elas.

Mas eu também preciso aprender a falar diferente…

Falar com o coração, não com a mente.

Eu fui radicalmente puxada da minha mente pro meu corpo quando meu filho nasceu, e isso não é algo que esteja pronta pra falar…

Minha consciência está numa “descida” que parece nunca ter fim… ainda que eu já tivesse interesse nos mistérios do útero, eu não fazia ideia do que viria.

O que dizem por aí, sobre sagrado, feminino, ventre… não computa. Não toca nem a superfície.

Eu mesma estou nesse caminho a 7 anos e parece só o início. Mas uma sensação estranha de como se parte minha já soubesse o que se encontra lá em baixo (mesmo que eu não saiba ainda, eu sei?)

Relembrar. É essa a palavra.

Não há nada que a gente realmente não saiba, se tratando de alma. A gente só se lembra.

A “jornada”, despertar… nada mais é do que voltar.

Voltar pro que nunca deixou de ser.

Curar o que te distanciou do que já era antes.

Voltar a ser o que sempre foi.

E nesses últimos anos meu coração foi dilacerado, rasgado… tantas e tantas vezes. Pra me fazer voltar a ser.

Uma maturidade de mulher nasceu em mim, mesmo em meio aos processos ainda não superados do passado… desde que meu filho nasceu eu já não sofro mais como criança. Eu sofro como mulher. E essa magia de sofrer como mulher é o que permite a alquimia.

Eu não posso mais me colocar no lugar de vítima de alguém partindo meu coração.

Ainda que me arda… a dor é minha. E isso trás poder, de alguma forma.

E eu não estou romantizando a dor. Isso é coisa de adolescente.

Estou descrevendo o processo inegável que acontece quando você sabe transformar a dor em amor (próprio).

Talvez chegue um dia que não haverá mais dor… mas talvez esse dia só será possível porque terei me tornado mestra em alquimiza-la.

Não porque não mais a sinto. E sim, porque me tornei forte o suficiente para senti-la.

É por isso que a dor é o caminho que ninguém quer trilhar, mas vai.

É impossível escapar do inescapável.

Corações se partem. Pessoas morrem. Partes de nós se vão.

É tudo a mesma dor: o apego que tenta se agarrar pra não deixar morrer aquilo que se vai.

É fácil falar de apego. Existem muitos conceitos espirituais “iluminados” falando sobre isso…

Difícil é experienciar seu coração ser arrebentado enquanto o único caminho que te resta é pra dentro. A dor (que é a morte nesse sentido) não possibilita encontrar soluções em nenhum outro lugar.

Não tem como remediar, anestesiar, achar nada em lugar nenhum… nada vai aliviar se não o amor. E onde mora o amor afinal?

É pra isso que tem sido minha oração.

Na última lua cheia estava sentada na grama olhando pra ela… chorei e rezei porque sentia meu coração trancado. Algo que nem sei explicar mas parece muito, muito antigo. Quase palpável. Uma couraça física que me impede de sentir algo que tanto quero mas existe uma trava. Uma inabilidade de conexão.

Rezei para ela. Pedi por favor pra me ajudar a sentir porque não sentir é desesperador.

Sentir o buraco, o vazio, é desesperador.

E toda vez que converso com a lua, que saio a noite, naturalmente entro em outro estado do meu ser… as pessoas glorificam demais os estados alterados de consciência, que tem se tornado cada vez mais e mais naturais para mim em meio a natureza.

Nesse estado se torna claro cada bloqueio. Ainda que minha mente perceba tudo tão diferente, tudo tão nítido, meu coração nem sempre sente igual.. e é exatamente por isso que minha jornada de aprendizado tem sido através da não-mente.


A lua me mostrou a árvore na minha frente. Ela estava viva como nunca, quase incandescente. Enorme e viva, me chamando. Era uma mangueira.

Naquela noite dormi de exaustão, e no outro dia fui deitar em suas raízes…

Deitei num cantinho que parecia um berço. Eu adoro os buracos que se formam nas raízes das árvores literalmente nos convidando a entrar ali.

Deitei e meditei com ela… falei que a lua tinha me dito pra ir ali.

Não lembro bem quanto tempo fiquei até começar a sentir uma dor profunda. Um luto… vi coisas de uma outra vida que já havia visto, e aqui de novo… sentindo dores das coisas que perdi nessa vida que já se foi…

Quando acaba o luto, afinal?

Na dor desse luto senti a rendição que só a morte possibilita. Quando você não tem mais escolha, que escolha te resta se não amar? Por isso mesmo é a maior iniciação. Não há absolutamente nada que você possa fazer nessa situação se não deixar. E o deixar dói, dói, dói…

Até um amor tão intenso começar a invadir meu coração. Amor por nada em específico, amor por tudo! Amor só por amar. Deitei naquela árvore e chorei tanto por amar a vida, por amar a ela, por amar o planeta, por amar com tanta força a ponto de sufocar meu coração porque esse tipo de amor forte não é tão fácil nas relações… é mais difícil amar o ser humano.

Mas me permiti amar a ela ali naquele momento. Algo que venho experienciando cada vez com mais frequência: o amor devastador por essa terra á ponto de não saber explicar. Uma saudade dela que me arrebenta…

E como posso sentir saudade de algo que está aqui o tempo todo? Como posso sentir saudade de um lugar que já estou?

Porque não é sobre isso.

É sobre minha conexão com isso.

Uma falta que me arde e me sufoca de me sentir uma com ela… uma falta ardente de me sentir parte á ponto de não precisar ter um corpo e poder voltar pra ela, poder me fundir com ela, sem nada me separando.

Essa é a mesma falta de Deus. A mesma falta do toque de um homem. A mesma falta da nossa mãe.

Um grito desesperado de quem quer sair de si e voltar pro outro.

Ainda que a separação do corpo permita experiências únicas… o transcendente dessas experiências é a sensação de retorno. A sensação de voltar a ser um.

Me permiti chorar no colo dessa árvore como a muito tempo não me permito com alguém. Eu sabia que ela era forte o suficiente pra me segurar e que era seguro amá-la.

Mas é seguro amar quando corremos o risco de perder? Sabendo que vamos perder e que tudo irá morrer eventualmente e só nos restará nossa própria presença como consolo?

Não há o que console isso. Mas não há outro caminho se queremos voltar a sentir.

Tudo que petrificou o coração foi o que doeu… e ironicamente queremos voltar a sentir para que, mais uma vez, volte a doer. Para podermos sentir assim que estamos VIVOS e dessa vez mais preparados pra atravessar a dor sem precisar morrer junto com ela.

Dessa vez, não precisamos mais fechar o coração.

Somos fortes o suficiente agora.


Não sei exatamente porque estou escrevendo tudo isso. Mas queria compartilhar um pouco do meu coração e tentar fazer sentido dessas experiências tão profundas e guardadas que ainda me é difícil colocar em palavras…

Quero aprender a falar a língua do inominável. 09/09/2024

 
 
 

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